Friday, March 13, 2009

A carta

Depois de ter escrito, reescrito, pensado e repensado, por diversas vezes, resolvi por fim, passado bastante tempo, entregar-te esta pequena carta, porque é a ti que ela se destina e assim, cumpre-se a função para a qual foi inventada.
Ponderei vezes sem conta se devia ou não faze-lo, pois jamais nos meus dias de existência, tomei atitude semelhante a esta. Decidi agora, de uma vez por todas, faze-la chegar ao seu destinatário, visto não conseguir retê-la em minhas mãos por mais tempo. Tinha-a guardado numa caixa com o intuito de me esquecer da sua existência e do que nela tinha escrito. Mas, cada vez que te via algures, lembrava-me dela e surgia em mim, mais uma vez, o sentimento de cobardia. Se não a entreguei até hoje foi sempre por falta de coragem. Tinha receio, medo. Não sabia se deveria ou não faze-lo. Não sabia como irias reagir, se irias fazer troça da minha pessoa, se irias gostar, se irias não gostar. Enfim, existem tantas possibilidades que nem me é possível enumera-las. Mas, embora ainda não saiba, tenho de o fazer, pois caso contrário arrepender-me-ei para o resto dos meus dias. Por isso, aqui está, finalmente em tuas mãos.
Não espero que compreendas.
Gostaria apenas que lesses.

Apesar de desconhecer por completo o ser que te move, uma razão, que não é a minha, leva-me a escrever-te estas palavras.
Conheço apenas a tua capa – figura essa que vejo entre tantas outras, ora de dia ora de noite. Mas, não é ela que provoca em mim esta vontade de, tentar sobre o papel, transcrever os meus pensamentos, transformando assim esta pequena folha em uma outra forma de comunicação, diferente daquela na qual os nossos olhos por breves instantes se cruzam e que por momentos me fazem sentir algo cujo significado para o qual não encontro vocábulo.
Jamais te dirigi alguma palavra, mas, ao longo destes anos em que a tua presença, por algum motivo que ignoro, sempre se fez notar, venho agora assim, estabelecer pela primeira vez um contacto que se situa entre o físico e o psicológico.
Porquê??...
Porque é desta forma que melhor me exprimo…
Porque em mim surgiram, por diversas vezes, dúvidas várias em relação à tua pessoa.
Porque… porque desejo apenas que tomes conhecimento de que ocupas por vezes o meu pensamento e que existe algo sobre a tua essência que me faz querer de novo olhar para ti.
Gostava de te conhecer melhor mas isso não depende apenas da minha vontade.
Nunca escrevi tais palavras a alguém.
A reacção que este “desabafo” provocar em ti é para mim uma perfeita interrogação. Por isso, nada espero. Não espero uma palavra, um gesto, um olhar. Rien
Não desejo com isto ofender ninguém. Como afirmei desde o início deste pequeno manuscrito, nada sei a teu respeito…
não espero que compreendas…
gostaria apenas que lesses…

Obrigada.
Sabrina Rodrigues

Tuesday, November 25, 2008

"Porque foste na vida
A última esperança
Encontrar-te me fez criança
Porque já eras meu
Sem eu saber sequer
Porque és o meu homem
E eu tua mulher
Porque tu me chegaste
Sem me dizer que vinhas
E tuas mãos foram minhas com calma
Porque foste em minh'alma
Como um amanhecer
Porque foste o que tinha de
ser"

Saturday, September 06, 2008

É...

É silêncio...
É dor...
É frio...
E é calor.

É sangue...
É dor...
É langue...
Mas vem com fervor.

É tempo...
É flor...
É lento...
Contudo traz o ardor.

É puro...
É tempestade...
É o sorriso e a sua metade.

É calmo...
É confusão...
É o palmo da nossa razão.

É desejo...
É desalento...
É a angústia do sofrimento.

É alegria...
É a tristeza...
É caminhar com toda a leveza.

É a Noite...
mas também o Dia....
A Primavera...
mas também o Outono.

É o verão do inverno
O Sol da Lua
a ferida da espada
e o que sempre continua.

É o completar de um vazio que se movimenta por um todo.
É a esperança que se inicia mas que jamais termina.
É a união dos contrários e a disjunção dos análagos.
É a forma tomada de tudo que existe e de tudo aquilo que persiste.
É a expolsão interior e a eclosão exterior.

É cobiça,
É vaidade,
É inveja,
É rancor.

É o apertar do peito,
o sentir do vazio,
o amanhecer da noite
e o entardecer do dia.

É a vida que ata e que não desata.
É um conjunto de folhas rasgadas e guardadas para nunca mais ver.

É o tocar dos violinos e dos violoncelos,
a constatação das estrelas
e o luminar das velas.

É o constragimento puro.
O abraçar das bochechas,
o cair das folhas
e o desabrochar das formigas.

É o encontro e desencontro dos olhares perdidos no espaço.

É o frenesim frenético das pálpebras que com
a movimentação da menina - pintada de negro, rodeada de branco, e entrelaçada com uma outra herdada da mãe ou do pai - eleva à memória a intensidade e a vivacidade de um momento, jamais esquecido numa gaveta que fica para lá do consciente.


(pausa)


É silêncio...
É dor...
É frio e é calor.

É sangue...
É dor...
mas vem com fervor.

É simplesmente...sentir o vento que anuncia o amor.

Felisbela de Andrade

Tuesday, July 29, 2008

Silence becomes it...

Thursday, July 24, 2008

um bocado de mim para ti

...porque quando dialogámos, perco-me por vezes, na imensidão das palavras, ouvindo apenas o barulho provocado pelos sons sonoros emitidos pelas nossas vozes, e rendo-me, entrego-me, à outra forma de comunicação, que surge quando os nossos olhares se cruzam, que permanece e tece, na minha mente, o mais grandioso dos sentimentos que faz brotar no peito o aperto que dá vida ao corpo e que o faz caminhar pelo trilho ao qual chamam vida...

...porque ao teu lado...na tua presença...sinto que muito existe.

Tuesday, May 27, 2008

Pequenos episódios

- Posso lhe falar sobre isso um dia...
- Gostaria muito...

Assim ficou a bela e doce Sofia à espera de uma palavra que fosse.


Foi num dia de Sol que se viram pela primeira vez.
Viu-a ao longe. Vestida de negro estava com os seus belos e longos cabelos a ondularem pelo vento como leves folhas agarradas aos braços de uma árvore.
Ela deslocara-se na sua direcção, levantou suavemente os olhos, para repentinamente encontrar o homem com quem passaria o resto da sua vida.

Tuesday, April 29, 2008

Recordar para viver...

(Para relembrar às pessoas que lêem este blogue, incluíndo eu própria, que: )


Ele existe...

tal como tu e eu...

ele existe.


"Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito deseperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das maõs. E durante o dia e durante a vida, quando não está lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem.
Não é para perceber. É sinal de amor puro...amar e não se ter, querer e não guardar esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste (...) Não se pode ceder, não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a vida inteira (...) Só um minuto de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também."
Miguel Esteves Cardoso in Último Volume (1996: pp. 77)

Friday, April 18, 2008

...

I wish you were here with me...

Saturday, March 29, 2008

He who came to me

If only a glimpse of love could I show thee
How happy could thou be?
Come to me my love
And I would hold thee.

In my arms is yet to be,
He who came to me.

Saturday, March 15, 2008

Sonho consigo.

Que me diria se soubesse?
Como reagiria?
O que faria?

Sou o ar que respira?
A luz que o ilumina?
A noite que o adormeçe?

Estou tão perto e tão distante.
Longe, mas ao seu alcançe.

Sunday, February 17, 2008

...

''You have bewitched me, body and soul
I never wish to be parted from you from this day on."

Jane Austen

Thursday, June 14, 2007

E sofia disse:

"E se fosses flor, olharias para mim dessa maneira?
Ou continuarias na ignorância da minha existência?
Desajarias que fosse outra para além de mim própria?
Ou tomavas-me em teus braços consciente de quem sou e o que sou?"

Não há na vida lenços que possam enxugar as lágrimas que escorrem pelas pétalas singelas da Primavera.

Thursday, June 07, 2007

Sonhei-te aqui, longe de mim, esperando a Lua e à procura de tudo o que existe e persiste. Vieste, mas logo foste. O vento corria distante. As maças sentadas a contemplar a leve dança das folhas. Desespero constante. Não havia mais mel para humedecer os lábios. Ríamos no chão do campo verdejante e saltitante. Loucos éramos. Percorríamos a erva, os malmequeres e os morangos que ali se tornavam grandes. D'oiro eram os chapéus do trigo que tombavam com cada suspiro daquele que flutua na face. Éramos pequenos admiradores de sorrisos. Sonhei-te longe, aqui perto de mim. As maõs trocavam olhares, os olhos beijavam as faces e os corpos escutavam...escutavam os sons que, desde cedo, madrugaram da casa de um senhor a quem chamam de Inverno. Aqueceu-se a fonte do batimento cardíaco e quando ela chegou, descobriu-se o que outrora fora queimado com o gelo ofuscante e que, pensavam eles, se tivera escondido nos braços de uma Eternidade...

Sunday, June 03, 2007

Wanted / Procura-se


Who is the author of this painting?
Quem é o autor deste quadro?
¿Quién es el autor de esta pintura?
Wie de auteur van dit het schilderen is?
Qui est l'auteur de cette peinture?
Wer der Autor dieses Anstriches ist?
Ποιος είναι ο συντάκτης αυτής της ζωγραφικής?
Chi è l'autore di questa pittura?
この絵画の著者はだれであるか?
이 회화의 저자는 누구 이는가?
Будет автором этой картины?

Sunday, May 13, 2007

como dói não te ter aqui, perto de mim...

Tuesday, May 08, 2007

Para ti....

Tuesday, April 24, 2007

Quero mostrar-te este mundo,
Quero os teus olhos para ver
o que te toca no fundo,
Qual a razão de viver.

Quero ensinar-te a amar,
Quero ctg aprender a ter na vida um lugar perto de outro ser.
Se eu poder descobrir,
quero deixar-te encontrar a razão de permitir o coração comandar..

Luís Pedro Silva (Tuna de Medicina do Porto)

Sunday, April 15, 2007

Esta palavra que se repete indefinidamente na minha mente,
Ocupa um lugar primordial no campo lexical que me dá a razão.

Experiências vividas do ser mental,
Sonhos sentidos no campo vital,
Que jamais tomaram forma de existência.

Ilusões diferenciadas,
Caminhos determinados numa breve inspiração,
Mas logo exterminados
Pela expiração.

O que sou?
Porque não o sou?

O Receio - seu companheiro da busca incessante - amolece o corpo,
Transformando-o em angústia extrema.
Aah como dói não te ter aqui perto de mim...

Uma cobarde sou.
"Minh'alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão do meu viver,
(...)
Não vejo nada assim enlouquecida..." (Fanatismo de Florbela Espanca)

Só te vejo a ti em todo o meu ser
A Tua contemplação a cada instante.
Desnecessário é cerrar os olhos para estares junto de mim.

"Minh'a alma de sonhar-te anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver!
(...)
Não vejo nada assim enlouquecida"

So te vejo a ti em todo o meu ser...

O QUE TU ÉS

És Aquela que tudo te entristece,
Irrita e amargura, tudo humilha;
Aquela a quem a Mágoa chamou filha;
A que aos homens e a Deus nada merece.

Aquela que o sol claro entenebrece,
A que nem sabe a estrada que ora trilha,
Que nem um lindo amor de maravilha
Sequer deslumbra, e ilumina, e aquece!

Mar Morto sem marés nem ondas largas,
A rastejar no chão, como as mendigas,
Todo feito de lágrimas amargas!

És ano que não teve Primavera...
Ah! Não seres como as outras raparigas
Ó Princesa Encantada da Quimera!...

Florbela Espanca

EU

Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada... a dolorida...

Sombra de névoa ténue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...

Sou aquela que passa e ningém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber porquê...

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver
E que nunca na vida me encontrou!

Florbela Espanca

Um canto de mim

Esta voz com que canto
Vem-me da alma e o tempo
Ensinou-me o encanto
Do vento

É a voz de amor
Que vem cá de dentro
É o grito exterior
Do pensamento

O meu amor é todo para ti
Desde que te conheci
Canto os teus olhos
A terra e todo o mundo
O meu sentimento mais profundo

Música e letra de Daniel Pereira/Arrefole

Tuesday, April 03, 2007

Um simples diálogo

Sofia avistara-o ao longe. Ao aproximar-se dela, dirigiu-lhe a palavra colocando-lhe a fatal questão:
Então Sofia, tudo bem?
Ela ficara parada por breves instantes a pensar no que lhe iria responder. (...)
Foi então que proferiu as seguintes dolorosas palavras:
- Não, não está tudo bem! Estou deseperada! Um dia não me disseste que querias ser meu amigo?, pois chegou a tua altura. Senta-te aqui do meu lado e escuta o que tenho para dizer. Necessito de libertar esta angustia que me domina o peito. Estou deseperada. Não sei o que fazer.
- Mas o que te aconteceu, querida Sofia? o que te fizeram para estares nesse estado? - disse o rapaz com um ar todo embasbacado, pois nunca tivera antes visto a gélida Sofia em tal estado.
- Estou apaixonada Luís!!!Estou apaixonada! É terrível!! Estou apaixonada! Ai meu Deus, o que hei-de fazer? O que me havia de acontecer!- exclamou a pobre.
Ele perante tal transtorno respondeu:
- Oh Sofia, mas isso lá é razão para estares assim? Estar apaxionado é maravilhoso. É belo. É lindo...
- Eu sei Luís, é maravilhoso, é uma dádiva dos deuses. Mas não nestas condições. A presença deste ser na minha mente é uma constante - disse Sofia, recordando-se de todos os momentos com ele vivido - sei-o todo de cor. O seu sorriso... a sua tristeza... como dança... como abraça... o modo como se move... o seu galanteio...a forma como me dirige a palavra... o que pensa quando faz aquela cara estranha... o seu ar altivo... o seu olhar... Sei-o de cor. Imagino-me tocando-lhe na face... sentindo a minha mão na dele...imagino-me com ele na Escócia, na Irlanda, na neve, na praia, em todo lado Luís. Em todo o lado. Mas tenho de o tirar da minha cabeça!Tenho! É necessário.
- É necessário porquê Sofia? Não vejo mal nenhum nisso, é perfeitamente natural. Tu és uma mulher e ele um homem. Porque não te apaixonares por ele? - disse Luís.
Ao que Sofia replicou:
- Porquê?! Ora porquê...
(...)
E agora diz-me o que vou fazer?
(...)
Não percebo...Não percebo... Quase que demos um beijo. Foi um momento deveras bonito. Sinto-o como se fosse ontem e agora... mas passado um mes e pouco, ele... ele..
- Mas quem é ele Sofia? - perguntou Luís - conheço-o?
- Sim Luís...como bem o conheces. És tu...

E foi assim, que a bela e doce Sofia, virou as costas ao homem que... finalmente trespassou o seu coração, deixando-o para nunca mais...talvez o encontrar.

Thursday, December 14, 2006

Deitada no chão estava, vestida de branco.
Os seus belos e longos castanhos cabelos estendidos, ainda que alguns lhe tocavam na pálida face.
"Amo-te", disse ele, sussurrando-lhe ao ouvido.
Ela olhou-lhe e sorriu.
Estendeu-lhe a mão, mas foi nesse funesto instante que lhe fugira o sopro vital, roubando-lhe o sentimento e a razão.
Ficara apenas ele agarrado ao seu corpo, esperando que um dia, ela voltasse.

Assim morreu a doce mas, querida Sofia.

Wednesday, December 13, 2006

"Gosto de ti", foi o que ele lhe disse.
Ela, nada respondeu.
Deixara o silêncio tomar as suas palvaras pois é no silêncio que reside a arte do amor.

Tuesday, December 12, 2006

Silêncio...

Um dia assim te disse:
Gosto do teu silêncio
Hoje digo-te:
Causa-me dor.

Sunday, October 29, 2006

Sunday, October 08, 2006

The Man I Love




Someday he'll come along, The man I love
And he'll be big and strong, The man I love
And when he comes my way
I'll do my best to make him stay.

He'll look at me and smile, I'll understand
Then in a little while, He'll take my hand
And though it seems absurd
I know we both won't say a word.

Maybe I shall meet him Sunday,
Maybe Monday, maybe not
Still I'm sure to meet him one day
Maybe Tuesday will be my good news day.

He'll build a little home, That's meant for two
From which I'll never roam, Who would, would you
And so all else above
I'm dreaming of the man I love.

Billie Holiday "The Man I Love"

Sunday, September 03, 2006

Zaratustra agarrou-se à árvore, junto da qual o jovem estava sentado, e falou assim:

"Se eu quisesse sacudir esta árvore com as minhas mãos, não o conseguiria.
Mas o vento, que nós não vemos, atormenta-a e verga-a para o lado que quer. É por mãos invisíveis que somos vergados e atormentados da pior maneira
(...)
Porque te assustas com isso? Mas passa-se o mesmo com a árvore. Quanto mais esta quer subir para a altura e a claridade, tanto mais fortemente as suas raízes tendem ir em direcção à terra, para baixo, para as trevas, para a fundura...para o Mal"
(...)
"Disessete a verdade, Zaratustra. Já não confio em mim próprio, desde que aspiro às alturas, e já ninguém confia em mim...Mas como sucede isto?
Transformo-me demasiado depressa: o meu hoje refuta o meu ontem. Salto muitas vezes os degraus, quando subo - e nenhum degrau me perdoa isso."
(...)
"Esta árvore ergue-se, solitária, aqui na serra. Cresceu muito para além de pessoas e animais. E se quisesse falar, não teria ninguem que a compreendesse, de tão alto que cresecu."

Friedrich Nietzsche in Assim Falava Zaratustra


Thursday, August 31, 2006

As minhas Asas de Almeida Garrett

Este é um poema lindíssimo de Almeida Garrett

Chamar-lhe-ia também: A "fatal" passagem ;)


Aqui está:


Eu tinha umas asas brancas,
Asas que um anjo me deu,
Que, em me eu cansando da terra,
Batia-as, voava ao céu.
- Eram brancas, brancas, brancas,
Como as do anjo que mas deu:
Eu inocente como elas,
Por isso voava ao céu.
Veio a cobiça da terra,
Vinha para me tentar;
Por seus montes de tesouros
Minhas asas não quis dar.
- Veio a ambição, coas grandezas,
Vinham para mas cortar,
Davam-me poder e glória;
Por nenhum preço as quis dar.
Porque as minhas asas brancas,
Asas que um anjo me deu,
Em me eu cansando da terra
Batia-as, voando ao céu.
Mas uma noite sem lua
Que eu contemplava as estrelas,
E já suspenso da terra,
Ia voar para elas,
- Deixei descair os olhos
Do céu alto e das estrelas...
Vi, entre a névoa da terra,
Outra luz mais bela que elas.
E as minhas asas brancas,
Asas que um anjo me deu,
Para a terra me pesavam,
Já não se erguiam ao céu.
Cegou-me essa luz funesta
De enfeitiçados amores...
Fatal amor, negra hora
Foi aquela hora de dores!
- Tudo perdi nessa hora
Que provei nos seus amores
O doce fel do deleite,
O acre prazer das dores.
E as minhas asas brancas,
Asas que um anjo me deu,
Pena a pena, me caíram...
Nunca mais voei ao céu.

Monday, August 14, 2006

(sem título)

Escondo-me por entre olhares e sorrisos.
Num mundo que dizem ser belo, interessante e cativante.
Vós que dizeis tal absurdo,
olhai para dentro de mim e
veréis como sou má, cruel e vil.
Esta é a minha natureza.
Escondo-me por detrás de cortinas,
de pele e células.
São elas o meu corpo.
Desejo ser água, árvore e folha.
Transparente, grande e pura.
Desejo ser uma e não duas.
Uma e não três.
Prefirais ser mil?
Eu prefiro ser o primeiro algarismo dele.
Desejo ser luz e não sombra.
Água e não lama.
Mas o escuro enaltece-me
e a luz enfurece-me.
Reparai na capa humana,
e vejais por certo, contentamento.
Observai esta mente magnificente,
e vejais a razão do meu escarnecimento.
Sou duas e não uma.
O adicionamento da bela e da monstra.
Ah, vil pensamento.
Deixai-me ser uma e não duas...
Cão, mas não gato...
Folha, mas não espinho...

Wednesday, August 09, 2006

Como dói saber que o passado já lá vai.
Saber que o que foi não volta.. jamais.
Um presente que nunca teve lugar,
Um passado inconsequente que arrasta um futuro imprudente.
Renascer para tornar o amanhã diferente.
É isto que desejo.
Dizer adeus para nunca mais...
nunca mais recordar o que foi e o que...(por algum motivo)
lá já vai.

Uma? Duas? Três? Mil? Quatro? eis a questão...

Monday, August 07, 2006

Compreendo o que outrora escreveu Bernardo Soares encarnado em Fernando Pessoa

"E assim sou, fútil e sensível...Tudo em mim é a tendência para ser a seguir outra coisa; uma impaciência da alma consigo mesma, como uma criança inoporutna; um desassossego sempre cresecente e sempre igual. Tudo me interessa e nada me prende. Atendo a tudo sonhando sempre; fixo os mínimos gestos faciais de com quem falo, recolho as enotações milimétricas dos seus dizeres expressos; mas ao ouvi-lo, não o escuto, estou pensando noutra coisa, e o que menos colhi da conversa foi a noção do que nela se disse, da minha parte ou da outra parte de com quem falei. Assim, muitas vezes, repito a alguém o que já lhe repeti, pergunto-lhe de novo aquilo a que ele já me respondeu; mas posso descrever, em quatro palavras fotográficas, o semblante muscular com que ele disse o que não me lembra, ou a inclinação de ouvir com os olhos com que recebeu a narrativa que não me recordava ter-lhe feito. Sou dois, e ambos têm a distância - irmãos siameses que não estão pregados. " Fernando Pessoa in Livro do Desassossego (1998: p.53)

Como te compreendo. Sou quase nunca uma. Existirá algures apenas um? "Somos aquilo que demonstrámos". Como te enganas. Somos aquilo que não demonstrámos. Somos o eu que ninguém conhece. Uma fraude somos. Quero ser árvore, pássaro, peixe, bolota. Rio, mar, sol, chuva. Tudo menos mais do que uma.


(Árvore? Peixe? Bolota? Pássaro? dirigem-se para onde? Para lado algum. Nascer, existir e morrer. O fim pelo qual todos esperam e desesperam. Aceitar , é esse o caminho. Mas que raio de caminho é este? O ponto de partida: um útero. O ponto de chegada: o nada? Vejo uma luz e acabo na escuridão? Saio para atingir o pó? Então será: Nascer para se tornar pó. Mãe!?vou ser pó. Que aleg(o)ria esta de viver... Estou feliz. Vou ser pó.)


(lol)
Só me aptece fazer poemas quando te vejo
e nunca te disse nada porque talvez me agrade
não te dizer nada e ter-te assim
como te imagino
minha sem seres minha porque
revejo o meu silêncio no teu
e se é verdade que há ruído sempre que te vejo
sempre que te vejo faz-se silêncio
e eu ouço apenas o vento que varre a cidade
e lava as folhas secas
e acaricia o cimento pesado dos prédios
e então eu vejo nos teus passos a minha busca
e na tua maneira apressada de olhar
a dança frenética do vento
e nos teus olhos aquele fogo escuro
que me faz querer reconstruir o mundo
e acompanhar o vento na sua dança louca
entre o cimento desta cidade
e dizer-te que a tua busca é a minha
e dizer-te que o teu silêncio é o nosso
e que os teus olhos fazem com que me perca
no meio de tudo isto....

(num poema de amor há vento, fogo,silêncios falsos e verdadeiros também,mas não há, nunca, pontuação)
César Adão

Monday, July 31, 2006

delírio constante



Delírio constante.
Ocupas a minha mente como se de um neurónio te tratasses.
Diferes destes não só em matéria como de presença igualmente.
O senhor neurónio é dono de uma existência despercebida.
É uma presença constante que se move nas curvas da massa cinzenta sem que um gesto seja notado.
Mas tu!
Tu és um desconhecido ser sem uma forma física aparente,
és um imaginário, um pedaço de céu, uma bola de algodão.
Arrastas os pés à medida que conquistas mais um espaço na tua nova habitação, onde coabitam os seres que me dão a razão.
Aniquilas um por um e tornas-te o Senhor dos Meus Pensamentos.
Cada passo teu sinto.
Acordo e dizes-me bom dia.
Deito-me e dizes-me adeus mas logo te vejo quando invades os sonhos que dizem ser dos deuses.
Vieste e não pediste licença.
Nem bateste à porta.
Quem és tu?
Quem te chamou?
Não te quero aqui.
Vai-te embora.
Deixa-me só.
Reúno forças para te combater com a minha espada doirada mas cada facada dada é o teu alimento.
Sinto-me fraca e tu forte.
Vejo o teu sorriso mas não ouso tocar-te.
Tenho medo.
Não te conheço.
Apenas te reconheço.
Sou uma desconhecida que pousa os pés no chão mas logo os levanta para caminhar em vão.

Saturday, July 22, 2006

Em nome do Amor Puro..

"O que quero fazer é o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguem se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Teixeira de Pascoaes meteu-se num navio para ir atrás de uma rapariga inglesa com quem nunca tinha falado. Estava apaixonado, foi parar a Liverpool. Quando finalmente conseguiu falar com ela, arrependeu-se. Quem é hoje capaz de se apaixonar assim?
Hoje em dia as pessoas apaixonam-se por uma questão prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão mesmo ali ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato. Por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.
(...)
O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnam-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica da camaradagem. A paixão que deveria ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas em vez de se apaixonarem de verdade, tornam-se praticamente apaixonadas.
Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há. Estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores de romance, romanticidas.
Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o medo, o desequilíbrio, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?
(...)
Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Por onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, fachada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassado ao pessoal da pantufa e da serenidade.
Amor é amor. É essa a beleza. É esse o perigo (...) O nosso amor é para nos amar, para levar-nos de repente ao céu, a tempo de ainda apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma conveniência assassina.
(...) É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita(...) O amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe.
Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito deseperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das maõs. E durante o dia e durante a vida, quando não está lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem.
Não é para perceber. É sinal de amor puro...amar e não se ter, querer e não guardar esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste (...) Não se pode ceder, não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a vida inteira (...) Só um minuto de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também."
Miguel Esteves Cardoso in Último Volume (1996: pp.75-77)

Monday, July 17, 2006

Indiferença humana

Existimos todos perante seres tão indiferentes. Desconhecedores das nossas essências.
(ler devagar).


Vejo-te, mas tu não me vês.
Observo-te, mas desconheces o meu ser.
Eu sou sombra...e tu luz.
Incapaz de uma palavra sou.
Coragem? tenho.
Encontro a tua porta e ela desaparece.
A minha entrada...logo se afasta mas logo aparece.
Levanta-se do chão e regressa para te contemplar na esperança de...
se ao menos tu soubesses.


Escrito na companhia dos MONO