Monday, August 07, 2006

Compreendo o que outrora escreveu Bernardo Soares encarnado em Fernando Pessoa

"E assim sou, fútil e sensível...Tudo em mim é a tendência para ser a seguir outra coisa; uma impaciência da alma consigo mesma, como uma criança inoporutna; um desassossego sempre cresecente e sempre igual. Tudo me interessa e nada me prende. Atendo a tudo sonhando sempre; fixo os mínimos gestos faciais de com quem falo, recolho as enotações milimétricas dos seus dizeres expressos; mas ao ouvi-lo, não o escuto, estou pensando noutra coisa, e o que menos colhi da conversa foi a noção do que nela se disse, da minha parte ou da outra parte de com quem falei. Assim, muitas vezes, repito a alguém o que já lhe repeti, pergunto-lhe de novo aquilo a que ele já me respondeu; mas posso descrever, em quatro palavras fotográficas, o semblante muscular com que ele disse o que não me lembra, ou a inclinação de ouvir com os olhos com que recebeu a narrativa que não me recordava ter-lhe feito. Sou dois, e ambos têm a distância - irmãos siameses que não estão pregados. " Fernando Pessoa in Livro do Desassossego (1998: p.53)

Como te compreendo. Sou quase nunca uma. Existirá algures apenas um? "Somos aquilo que demonstrámos". Como te enganas. Somos aquilo que não demonstrámos. Somos o eu que ninguém conhece. Uma fraude somos. Quero ser árvore, pássaro, peixe, bolota. Rio, mar, sol, chuva. Tudo menos mais do que uma.


(Árvore? Peixe? Bolota? Pássaro? dirigem-se para onde? Para lado algum. Nascer, existir e morrer. O fim pelo qual todos esperam e desesperam. Aceitar , é esse o caminho. Mas que raio de caminho é este? O ponto de partida: um útero. O ponto de chegada: o nada? Vejo uma luz e acabo na escuridão? Saio para atingir o pó? Então será: Nascer para se tornar pó. Mãe!?vou ser pó. Que aleg(o)ria esta de viver... Estou feliz. Vou ser pó.)


(lol)

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