Friday, March 13, 2009

A carta

Depois de ter escrito, reescrito, pensado e repensado, por diversas vezes, resolvi por fim, passado bastante tempo, entregar-te esta pequena carta, porque é a ti que ela se destina e assim, cumpre-se a função para a qual foi inventada.
Ponderei vezes sem conta se devia ou não faze-lo, pois jamais nos meus dias de existência, tomei atitude semelhante a esta. Decidi agora, de uma vez por todas, faze-la chegar ao seu destinatário, visto não conseguir retê-la em minhas mãos por mais tempo. Tinha-a guardado numa caixa com o intuito de me esquecer da sua existência e do que nela tinha escrito. Mas, cada vez que te via algures, lembrava-me dela e surgia em mim, mais uma vez, o sentimento de cobardia. Se não a entreguei até hoje foi sempre por falta de coragem. Tinha receio, medo. Não sabia se deveria ou não faze-lo. Não sabia como irias reagir, se irias fazer troça da minha pessoa, se irias gostar, se irias não gostar. Enfim, existem tantas possibilidades que nem me é possível enumera-las. Mas, embora ainda não saiba, tenho de o fazer, pois caso contrário arrepender-me-ei para o resto dos meus dias. Por isso, aqui está, finalmente em tuas mãos.
Não espero que compreendas.
Gostaria apenas que lesses.

Apesar de desconhecer por completo o ser que te move, uma razão, que não é a minha, leva-me a escrever-te estas palavras.
Conheço apenas a tua capa – figura essa que vejo entre tantas outras, ora de dia ora de noite. Mas, não é ela que provoca em mim esta vontade de, tentar sobre o papel, transcrever os meus pensamentos, transformando assim esta pequena folha em uma outra forma de comunicação, diferente daquela na qual os nossos olhos por breves instantes se cruzam e que por momentos me fazem sentir algo cujo significado para o qual não encontro vocábulo.
Jamais te dirigi alguma palavra, mas, ao longo destes anos em que a tua presença, por algum motivo que ignoro, sempre se fez notar, venho agora assim, estabelecer pela primeira vez um contacto que se situa entre o físico e o psicológico.
Porquê??...
Porque é desta forma que melhor me exprimo…
Porque em mim surgiram, por diversas vezes, dúvidas várias em relação à tua pessoa.
Porque… porque desejo apenas que tomes conhecimento de que ocupas por vezes o meu pensamento e que existe algo sobre a tua essência que me faz querer de novo olhar para ti.
Gostava de te conhecer melhor mas isso não depende apenas da minha vontade.
Nunca escrevi tais palavras a alguém.
A reacção que este “desabafo” provocar em ti é para mim uma perfeita interrogação. Por isso, nada espero. Não espero uma palavra, um gesto, um olhar. Rien
Não desejo com isto ofender ninguém. Como afirmei desde o início deste pequeno manuscrito, nada sei a teu respeito…
não espero que compreendas…
gostaria apenas que lesses…

Obrigada.
Sabrina Rodrigues